Resenha: "Coluna de Fogo"
- Alessandro Yuri
- 12 de out. de 2017
- 3 min de leitura

Autor: Ken Follett
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 806
Cotação: **** (muito bom)
O escritor galês Ken Follet é um especialista em romances históricos. Follett também é conhecido por seus thrillers de espionagem, tais como “O Buraco da Agulha” que foi adaptado para o cinema. Eu li há muito tempo “Os Pilares...” e gostei muito. Alguns o consideram o melhor livro de Follett. Concordo com essa afirmação, apesar de não ter lido todos os livros do autor. Em "Os Pilares...", Follet conseguiu criar um retrato muito vívido da Época Medieval, com uma grande riqueza de detalhes e uma galeria de personagens inesquecíveis. Também chama a atenção em seu enredo as duras críticas que autor faz a alguns membros da Igreja Católica, no que se refere aos jogos sujos de poder entre eles em seus bastidores.
Quando soube da publicação de “Coluna de Fogo” que dá sequência ao chamado ciclo de Kingsbrigde – localidade fictícia onde se passa as tramas de “O Pilares...” e “Mundo sem Fim” fiquei empolgado e resolvi ler o livro. Não me arrependi. “Coluna de Fogo” é um romance muito bom, embora goste mais de “Os Pilares...”.
Em "Coluna de Fogo", Follett juntou dois assuntos que ele domina muito bem: História e espionagem. Assim como em "Os Pilares..." os vilões novamente são membros do Clero, que no decorrer da trama cometem atos terríveis para atingir seus objetivos. No entanto, na caracterização desses personagens, Follet comete alguns exageros. Ambos são unidimensionais e encarnam o mal absoluto, e, por isso representam lado negativo da Igreja Católica. Follet também exagera nas cenas de violência e, principalmente de sexo descrevendo detalhadamente momentos íntimos (e constrangedores) do casal de protagonistas, que deveriam ser somente sugeridos.
O aspecto mais interessante de "Coluna de Fogo" é a inserção de elementos de thrillers de espionagem dentro de uma ambientação de época. Follet faz um bom uso desse artifício para fundamentar a tese de que o M6 (agência de espionagem inglesa) teve seu surgimento em estratégias e esquemas secretos, que visavam impedir a supremacia do catolicismo na Inglaterra. Dentro dessa sofisticada rede de espionagem, Ned Willand até então preparado para assumir os negócios em sua família, de forma inesperada assume um papel importante na defesa do reinado de Elizabeth e se vê envolvido em uma série de conspirações, que podem causar mudanças radicais no cenário político da Europa.
Novamente em "Coluna de Fogo", Follet cria protagonistas femininas fortes que lutam por seus ideias, a exemplo da Sylvie, a moça protestante que vende livros clandestinos para espalhar sua crença, mesmo sabendo que isso pode lhe custar a vida.Também na trama, o autor descreve uma série de situações tensas protagonizadas por personalidades históricos reais: as rainhas Elizabeth e Mary Stuart que estavam em lados opostos no conflito religioso, e disputavam o direito de governar a Inglaterra.
Embora Follet se declare ateu, na disputa entre católicos e protestantes, o autor tem a forte tendência a tomar a defesa do segundo grupo, mas não deixa de mostrar os excessos cometidos pelos dois lados na defesa de sua crença e seus dogmas.
Após o término da leitura, fiquei pensando se a nossa época é muito diferente de tempos passados. Acho que embora tenha o formato romanesco, “Coluna de Fogo” consegue espelhar o mundo em que vivemos, marcado pela religiosidade extrema associada à ideologia política.
Apesar de cometer alguns excessos,- talvez isso seja mais uma característica do que um defeito na escrita do gênero romance em tempos atuais -, Follet demonstra que tem muito a dizer sobre a importância de se respeitar as diferenças entre as religiões, o que não é pouco para um autor de best-sellers.
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