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Blade Runner: 35 anos

  • Alessandro Yuri
  • 14 de out. de 2017
  • 3 min de leitura

Blade Runner - O Caçador de Andróides completou 35 anos! Agora que sua esperada sequência intitulada Blade Runner 2049 estreiou nos cinemas, o filme de 1982 será revisto por muita gente, principalmente para entender os elementos de sua trama que tem novos e instigantes desdobramentos na mais recente produção. Blade Runner é um divisor de águas dentro do gênero da ficção científica. Na época de seu lançamento, essa produção dirigida pelo cineasta inglês Ridley Scott, - que, anteriormente, trouxe às telas de cinema Aliens: o oitavo passageiro, se não a primeira ficção cientifica de horror, sem dúvida a mais assustadora. Blade Runner foi um grande fracasso de bilheteria e teve uma má recepção por parte da crítica especializada, que não entendeu muito bem seu aspecto inovador como obra cinematográfica.

Blade Runner não é um filme de ação, embora tenha uma memorável sequência de perseguição pelas ruas de uma grande metrópole envolvida em luzes de neon. Seu ritmo é lento e, apesar de fazer uso de artifícios de ficção científica, a exemplo do uso de inovadoras invenções tecnológicas, há uma evidente mistura de estilos em sua composição. Isso se faz a partir de sua exuberante fotografia na qual predomina o contraste entre a luz e a sombra, e, principalmente pela inserção de uma trama detetivesca, na qual ocorrem mortes misteriosas e aparições de femme fatales, tais como a exótica Rachel (a bela, Sean Yong) que se torna o interesse amoroso de Richard Deckard (Harrison Ford), o caçador de andróides.

Além da presença marcante desses elementos que evocam os filmes noir dos anos quarenta, no trecho final do filme destaca-se a instauração de uma atmosfera crescente de suspense e tensão, por meio de cenas nas quais são criadas situações que causam intensas sensações de estranhamento beirando o terror, a exemplo daquela em que a replicante Pris (Daryl Hannah, que também é uma espécie de femme fatale) aparece cercada por seres autômatos, - uma referência visual a “O Homem de Areia”, conto gótico de E. T. Hofmann-, e seus estranhos gestos mecânicos denotam sua natureza artificial.

Também é dentro desse cenário fantasmagórico que ocorre conflito final entre Deckard e o Roy Batty, que revela ser uma criatura quase sobrenatural e indestrutível. Mas, talvez a importância de Blade Runner como obra de ficção científica e na arte cinematográfica deve ser reconhecida pela maneira como essa produção conseguiu antecipar alguns aspectos sombrios que encontram ressonância na realidade.

Se ainda não estamos morando em arranha-céus imensos, ou ainda não fomos capazes de inventar veículos que desafiam à lei da gravidade, em Blade Runner o mundo é uma “Torre de Babel globalizada”, na qual se fala um dialeto formado por diversas línguas, e onde os países mais ricos dominam os mais fracos, impondo sobre eles um novo tipo de neocolonialismo. No filme, a tecnologia é mostrada de forma agressiva, capaz de influenciar drasticamente o cotidiano das grandes cidades, de modo a criar novos códigos culturais e afetar profundamente os comportamentos sociais, assim como as hierarquias de poder.

É justamente em sua ênfase na existência de um novo tipo de experimento científico, capaz de alterar drasticamente a humanidade, que Blade Runner, se diferencia radicalmente de outras produções e obras de ficção científica dos anos oitenta. O filme discute com muita profundidade um tema recorrente no gênero, mas que aqui ganha novas matizes e uma dimensão filosófica: a criação de seres artificias feitos à imagem e semelhança do homem, mas com “curta validade de vida”. Ou seja, os chamados “replicantes” e “androides” são vistos somente como máquinas mais aperfeiçoadas, e somente são usados para realizarem tarefas consideradas degradantes para os seres humanos, tais como a prostituição, ou missões em estações espaciais perigosas, que implicam em risco de morte. No entanto, aos poucos é revelado que os replicantes não meras máquinas, mas são capazes de sentir emoções e se tornarem mais humanos que os humanos.

Dessa forma, o filme enfatiza e retoma de forma impactante o tema central do romance de Phillip K. Dick: a dissolução plena de fronteiras entre o que é humano e o que artificial, de modo a ser impossível diferenciar um do outro, uma vez que isso se torna uma complexa amálgama. É pela perspectiva como enxerga o futuro não somente em sua concepção visual, mas, principalmente, no modo como mostra como os avanços tecnológicos afetam drasticamente a vida cotidiana nas grandes cidades, que Blade Runner apesar de ter completado trinta e cinco anos se mantêm atual.

Sem dúvida, o filme de Scott é uma obra-prima que definiu as novas tendências da ficção científica na arte cinematográfica, e também influenciou profundamente as histórias em quadrinhos, a publicidade e a literatura fantástica.

Mesmo após sua primeira exibição a trinta e cinco anos, Blade Runner é ainda uma obra complexa, filosófica e até mesmo metafísica que expressa muito bem a fugacidade e fragilidade da condição humana, e consegue ser assustadora e fascinante ao mesmo tempo.


 
 
 

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